A Abolição


As razões que configuram a crise estrutural do escravismo fizeram com que, a partir de 1871, o movimento abolicionista se organizasse em pequenos grupos de boêmios e intelectuais influenciados por idéias liberais mais radicais. Mas, somente depois de 1880, segundo Nabuco, é que o abolicionismo aparece como um movimento que apresenta uma proposta política. Como vemos, a dinâmica radical anterior a esse movimento contra a escravidão partiu dos próprios escravos, através da quilombagem.

Nessas circunstâncias o povo, especialmente os grupos residentes nas áreas urbanas, acoitava os escravos fugidos. As leis contra esses atos não eram mais aplicadas. Em 1883, funda-se a Confederação Abolicionista, que atuará nacionalmente. O Clube Militar, em 1887, através do seu presidente, mostra as desvantagens de o Exército caçar negros fugidos, como queria o governo imperial. Portanto, foi o Clube militar, uma sociedade civil de militares, quem recusou o papel de capitão-do-mato, e não o Exército como instituição.
Por outro lado, somando-se a esses fatores, na última fase da escravidão, a simples fuga passiva dos escravos já era suficiente para desestabilizar o sistema ou condicionar psicologicamente os membros da classe senhorial e outras camadas sociais em desenvolvimento. Na fase do que chamamos escravismo tardio, a insegurança na compra de escravos e a pouca rentabilidade do seu trabalho eram suficientes para que os investidores transferissem seus capitais para a especulação.

O título de "Redentora", consagrado pelos áulicos da História oficialista à Princesa Isabel,  não passa de mais uma falácia com que se costuma enganar nossos estudantes de História.  A Abolição não proveio do bondoso coração da regente.  Foi produto de uma luta violenta, sangrenta, cheia de heróis anônimos.
Foi produto também do desespero de uma monarquia decrépita, já desprovida de bases de apoio social, condenada, e que agiu como o afogado: agarrou-se a uma palha.  Só que já era tarde demais.
Ao abolir a escravidão, estava o Império encostado à parede.  "Que se vão os anéis e fiquem os dedos" parece ser sua linha de pensamento.  Apenas, ao fazer isto, ignorava estar cometendo o suicídio político, pois perdeu o apoio do último setor social que ainda se interessava em prolongar sua agonia: os grandes latifundiários de café fluminenses e vale-paraibanos, escravistas até à medula.
O Império não morreu em 15 de novembro de 1889.  Morreu no dia 13 de maio de 1888, e seu atestado de óbito foi assinado pela Princesa Isabel.  Dizia: "A partir desta data ficam libertos todos os escravos do Brasil.  Revogam-se as disposições em contrário."


Abolição da escravidão. Angelo Agostini, IEBUSP.

Além dessas causas estruturais, fatores externos levam o sistema escravista a um impasse cuja solução foi a Abolição sem reformas. O dilema se apresentava diante dos fazendeiros: ou aceitavam a Abolição compromissada como o Trono queria, conservando-lhe os privilégios, ou correriam o risco de ver a Abolição feita pelos próprios escravos, através de medidas radicais, como a divisão das terras senhoriais. A concordata foi feita. O problema da mão-de-obra já estava praticamente resolvido com a importação de milhares de imigrantes. O trabalhador nacional descendente de africanos seria marginalizado e estigmatizado. O ideal de branqueamento das elites seria satisfeito, e as estruturas arcaicas de propriedade continuariam intocadas.


 
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História do Negro Brasileiro / Clóvis Moura - São Paulo: Editora Ática S.A., 1992
Brasil História / Antonio Mendes Jr., Luís Roncari, Ricardo Maranhão - São Paulo: Digitalmídia Editora Ltda, 1995.
Imagem publicada em Brasil Revisitado: palavras e imagens / Carlos Guilherme Mota, Adriana Lopez. - São Paulo: Editora Rios, 1989.