O certo é que o negro (quer escravo, quer livre) foi o grande povoador do nosso território, empregando o seu trabalho desde as charqueadas do Rio Grande do Sul aos ervais do Paraná, engenhos e plantações do Nordeste, pecuária na Paraíba, atividades extrativas na Região Amazônica e na mineração de Goiás e Minas Gerais. E não apenas povoou, mas criou pequenas comunidades rurais em todo o território nacional através de quilombos, fundando núcleos populacionais, muitos dos quais existem até hoje. Ocupou os espaços sociais e econômicos que através do seu trabalho, dinamizavam o Brasil. No entanto, esse fato não contribuiu em nada para que o negro consiga um mínimo dessa renda em proveito próprio. Pelo contrário. Toda essa produção é enviada para o exterior, e os senhores de escravos ficam com todo o lucro da exportação e comercialização. |
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Engenho de cana. Henry Koster, BMSP
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Após 1530, quando se pode falar realmente em colonização, com engenhos montados em São Vicente, iremos encontrar um dinamismo crescente na produção colonial brasileira. No século XVI a nossa produção anual de 300.000 arrobas de açúcar, já era superior à América espanhola, o que daria uma renda per capita das mais altas do Brasil em todos os tempos. A grande população negra escrava não participava da divisão desta riqueza. |
O mesmo acontece no período da mineração. Minas Gerais desponta e consegue o seu apogeu até o último quartel do século XVIII, como uma nova e florescente etapa da exploração colonial, a mais importante, segundo as autoridades de Portugal.
O negro é deslocado para preencher os vazios demográficos dessa nova faixa de trabalho. Não leva apenas o seu trabalho, contudo, mas a sua cultura, ensinando técnicas de metalurgia e mineração, aperfeiçoando métodos de trabalho, extraindo o ouro, procurando diamantes para proporcionar a riqueza dos contratadores e da Coroa portuguesa. |
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Mineradores. Rugendas, BMSP
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O negro escravo em Minas Gerais, por questões particulares, sofre as mais violentas formas de controle no trabalho, é vigiado diariamente. Quando fugia, tinha toda uma milícia de capitães-do-mato para persegui-lo. Mesmo assim conseguia extrair do subsolo mineiro toda a riqueza que foi enviada para Portugal e se destinava ao pagamento da dívida que a metrópole havia contraído com a Inglaterra. |
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Extração de diamantes. Carlos Julião, MP.
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Serro Frio. Carlos Julião, MP.
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Por outro lado, o decréscimo da população negra escrava depois de 1850, quando é extinto o tráfico, deve-se à sua grande mortalidade, pois, segundo cálculos confiáveis, a média de “vida útil” do escravo era de 7 a 10 anos. Mesmo assim, a sua influência povoadora em toda a extensão do Brasil se fez e se faz sentir, conforme demonstram todos os recenseamentos que foram feitos. O negro foi o grande povoador da nação brasileira durante a sua evolução social e histórica. |