Comida dos Orixás
 
O bacalhau é uma prova do sincretismo na cozinha do santo. Na cozinha original não havia pratos com bacalhau. Mas, em contato com o português, os santos passam a apreciá-lo, a tal ponto que se tornou o favorito de Exu e o predileto de pretos velhos e caboclos – todos eles brasileiros -, na condição de novos delegados da divindade.
Bacalhau à Povo de Angola
Cozem-se batatas com a casca, abertas e com sal; cozem-se um pouco de bacalhau demolhado e dois ovos. 
Faz-se um refogado forte com muito azeite-de-dendê e cebolas em rodelas. 
Põe-se tudo numa assadeira às camadas, com azeitonas, deitando-se o refogado por cima. 
Faz-se um creme com farinha de trigo, leite e dois ovos, mexe-se até engrossar e deita-se sobre o bacalhau.
Polvilha-se com pão ralado, leva-se ao forno quente até cheirar.

Bacalhau à Africanista
Meio quilo de bacalhau, três pimentões doces, três tomates grandes, 250 gramas de cebola, meio quilo de batata, meio litro de azeite-de-dendê, seis ovos, salsa fresca picada, pimenta e sal. 
Coze-se o bacalhau, bem demolhado, junto com as batatas. 
Depois de arrefecer uns minutos, cortam-se as batatas em rodelas e o bacalhau às lascas.
Colocam-se num prato, em camadas sucessivas e alternadas com camadas de pimentões, cebolas, tomates e ovos cozidos duros, tudo cortado às rodelas.
Rega-se cada camada com dendê e polvilha-se com sal, pimenta e salsa picada.
Vai ao forno regular por vinte ou trinta minutos.
Enfeita-se com azeitonas.

Farrapos de Bacalhau pra Preto Velho
Põe-se de molho o bacalhau para tirar o sal. 
Soca-se bem, até ficar muito desfiado.
Fritam-se alho e cebola em bastante dendê. Retira-se. Frita-se o bacalhau até ficar como fios dourados. 
Junta-se tudo e serve-se com arroz.
 

Bacalhau pro Caboclo
Deixa-se o bacalhau de molho 48 horas.
Tiram-se-lhe as espinhas, a pele, e parte-se em bocados de três centímetros ou menos.
Tira-se o leite de um coco e põe-se a mesma quantidade de dendê num tacho, onde deve juntar-se o bacalhau.
Leva-se ao fogo brando, mexendo sempre, até o molho engrossar. Sal a gosto.

Cuscuz de Bacalhau
360 gramas de bacalhau cozido e desfiado, seis tomates sem pele, dois ovos duros, meia lata de palmito, 50 gramas de azeite-de-dendê, cebola picada, uma lata de sardinha, três colheres de azeite, seis cenouras, farinha de milho, três colheres (de sopa) de farinha de mandioca, meia xícara de água salgada, oito colheres (de sopa) de banha, cheiro-verde picado, duas folhas de louro, coentro, manjerona, pimenta. Peneiram-se a farinha de milho e a de mandioca, molhando-as com a água.
Prepara-se um refogado com banha, tomate, cebola, cheiro, coentro e manjerona, tudo picado e temperado com pimenta, sal e louro. A isto junta-se o bacalhau desfiado, um pouco de palmito partido aos quadrados.
Mexe-se e deixa-se aloirar. Deita-se no meio das farinhas, amassa-se com as mãos e junta-se mais azeite se a massa ficar dura.
Molha-se o cuscuzeiro em água fria. Arrumam-se, no fundo e dos lados, rodelas de ovos cozidos, tomates, palmitos e azeitonas, assim como algumas lascas de bacalhau e sardinhas.
Acabada esta operação, enche-se o cuscuzeiro com o cuscuz de bacalhau. Fura-se a massa com o garfo a fim de que o vapor penetre bem. Coloca-se o cuscuzeiro sobre um tacho com água até a metade e deixa-se cozinhar no vapor.
Em honra também dos caboclos e do Preto Velho.
eite de coco, para escaldados de peixe e de caranguejo.

A maior parte das receitas foi recolhida pelo ogã José Darwin Brandão, autor do livro A Cozinha Baiana. 
A Cozinha Brasileira - São Paulo: Circulo do Livro S.A. (Edição integral Revista Cláudia - Editora Abril S.A.), sem data.
Ilutração de  Gil Abelha - Foto de Lúcio Mendes: escaneada da Coleção Orixás - São Paulo: Brascard Edi&ccediil;ões de Postais Ltda.
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