O Birô Interamericano no Brasil
 

 

O trabalho do Birô Interamericano no Brasil se revestia de um aspecto político vital: era necessário ganhar os corações e mentes dos líderes políticos e militares brasileiros, sem cuja cooperação os planos estratégicos dos Estados Unidos iriam por água abaixo. Mais ainda: era necessário assegurar não apenas o acesso às agências do Estado brasileiro, mas também ganhar os grupos sociais mais significativos do ponto de vista da formulação de políticas, assim como, na medida do possível, a massa da população politicamente significativa.

O Birô era dirigido no Brasil por Berent Friele e suas atividades tinham o apoio da Embaixada Estadunidense no Rio, além do suporte de um Comitê de Coordenação composto por empresários. Assentavam-se nesse Comitê, no ano de 1943, por exemplo, representantes da General Eletric, Standard Oil, Metro Goldwin Mayer, Light and Power Co., The National City Bank of New York e outros. Esse Comitê propunha-se a colaborar com o Birô e a Embaixada em tudo que "contribuísse para aumentar a compreensão mútua entre Brasil e Estados Unidos ou que pudesse ser útil no combate à influência do Eixo no Brasil". Também São Paulo, por sua importância, tinha uma agência do Birô, enquanto cidades do porte de Belém, Fortaleza, Natal, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre contavam com subcomitês de apoio.

O próprio Rockefeller visitou o Brasil em 1942 para examinar o andamento do programa e estimular suas atividades de propaganda. Aproveitou a ocasião para fazer política de aproximação com militares brasileiros e vender a imagem da “colaboração hemisférica”. A visita, muito bem preparada, foi considerada um sucesso. A popularidade atribuída ao coordenador do Birô pela imprensa do Rio de Janeiro naquela ocasião foi candidamente explicada por um dos assessores nos seguintes termos: “Mister Rockefeller é um vendedor de primeira classe”...

Enquanto enviava um sem-número de missões de boa-vontade e milhares de pessoa que difundiam no Brasil a língua, os costumes, os valores, a produção literária, a arte e a ciência dos Estados Unidos, o Birô não se descuidava das dimensões políticas que interessavam ao seu governo e das dimensões econômicas que interessavam à “comunidade de negócios” estadunidense. Atuando em conjunto com a Embaixada estadunidense no Rio, o Birô ajudou a preparar a “lista negra” de colaboradores brasileiros do Eixo e a boicotar suas atividades: ajudou a eliminar as linha aéreas do Eixo (Condor e Lati); ajudou a controlar comunicações radiofônicas de agentes alemães e a imobilizar seus navios nos portos brasileiros – enfim, a impedir qualquer atividade dos governos eixistas no Brasil.

A “lista negra” estadunidense – de empresas e personalidades brasileiras consideradas a serviço do Eixo ou mantendo relações com entidades comprometidas – era tão minuciosa (cerca de 500 nomes) e as medidas eram tão drásticas que os próprios representantes do governo britânico no Brasil ficaram preocupados com ela. Os diplomatas de Sua Majestade contrastavam a política britânica (que consistia em limitar os recursos líquidos à disposição dos adeptos do Eixo) com a política estadunidense (que consistia em “erradicar todas as conexões e interesses do Eixo, mesmo onde são genuinamente locais”). Diante dessa tentativa de “intervenção cirúrgica”, os representantes de Londres no Rio concluíam que os estadunidenses queriam fazer uma “limpeza da área” com a finalidade de estabelecer para si mesmos um domínio comercial tranqüilo após guerra. De fato a palavra de ordem do Birô era “eliminar”, na mais completa extensão possível, os interesses do Eixo no Hemisfério.
Mas também o governo brasileiro reagiu à lista negra estadunidense, elaborando sua própria lista e fixando uma política mais moderada. O Birô foi obrigado a conciliar suas concepções com as do governo brasileiro.

O Birô aplicou seus programas no Brasil em três grandes áreas interligadas: informação, saúde e alimentação.
 


 
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Tio Sam chega ao Brasil: a penetração cultural americana / Gerson Moura. - 1. ed. - São Paulo: Brasiliense, 1984. - (Coleção tudo é história; 91)
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