O Ciclo do Gado

O Ciclo do Gado, também chamado Civilização do Couro, ou seja, um período em que o gado vacum - introduzido no país em 1534 por Ana Pimentel, esposa de Martim Afonso de Sousa - transforma-se em importante fator da economia colonial, tanto como mão-de-obra auxiliar dos escravos nos engenhos de açúcar, quanto como produtor de alimentos (carne e leite, principalmente) para as populações das fazendas e povoados. Funciona como fator de interiorização nacional, consagrando o ciclo produtivo desse período.

Tronco para domesticar bois. Desenho de Debret

O Ciclo do Gado, iniciado na Bahia, toma duas direções diferentes ainda no século XVII, aproveitando a faixa de influência do rio São Francisco ou rio dos currais, como chamou Capistrano de Abreu. O primeiro sobe o rio acompanhando o seu curso pelo Nordeste; o segundo, depois de atingi-lo, transpõe-o em direção ao Norte até o Piauí. A partir do rio Parnaíba e do litoral, o boi chega ao Maranhão, espalhando-se por todo o estado - onde existissem pastos bons e água pura -, passando depois para o Ceará, fechando o cerco com a primeira direção, vinda de Pernambuco.

Transporte de carne de corte. Desenho de Debret.

Por resistir às intempéries naturais, disseminar o povoamento, torna-se fonte nutritiva de alimento das populações do interior e, ao mesmo tempo, ajudar no trabalho duro da lavoura, o boi passa a ser percebido como um animal importante no ciclo de produção da renda familiar e empresarial. Mas também aparece como um elemento ativo e sempre presente passando a ser percebido pelos negros e índios como um companheiro de trabalho, um símbolo de força, violência e resistência, assim como de equilíbrio, calma e solidez.



Mídia e experiência estética na cultura popular: o caso do bumba-meu-boi / Francisca Ester de Sá Marques. - São Luís: Imprensa Universittária, 1999.