VIDA SOCIAL: A Criança
O Aprendizado
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Ouvindo e interpretando os sons, a criança aprende a relacionar-se com o mundo. Mas as expressões faciais, a mímica e os gestos fazem parte da comunicação humana.

Educação informal
Na família se desenrolam em miniatura quase todas as atividades desenvolvidas pelos membros da sociedade, sendo portanto uma escola de preparação para a vida social. A preparação para a vida começa a ser dada pelos pais e coadjuvada pelos demais membros da família: irmãos mais velhos, tios, avós.

As primeiras palavras, são ensinadas pela mãe, que também os inicia no saborear dos primeiros manjares, após o período do aleitamento. É a mãe que os ensina a rezar: “Balbina ensina seus filhos a rezar, isto fazendo quando se levantam e deitam. Nestas orações – Padre Nosso, Ave Maria, Anjo do Senhor – diz a eles que peçam saúde aos pais, avós, irmãos e pelo vovô Quincas, falecido há pouco. Inicia, portanto, a criança nos caminhos da religião tradicional.

É a mãe também que lhes põe, nas horas de choro impertinente, a chupeta, formando um dos hábitos mais generalizados da região. Às vezes, criança de seis anos, ainda usa chupetas ou como comumente dizem – bico.

Acalantos
Ao anoitecer, após a refeição, quer na casa do rico, onde a mãe embala com o filho no regaço, na macia rede, ou na casa do pobre, onde sentada sobre a esteira, aconchegando a criança, sussurra um dorme-nenê, é o acalanto dolente, monótono que faz cerrar as pálpebras. Eis os acalantos mais comuns desta região:

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Á... á... á
Nenê qué apanhá
É... é... é
O Nenê é um bebê
Boi, boi
Boi do meu coração
Pegue o nenê
Qu’ele não qué dormi não.
Á... á... á
Nenê qué apanhá
É... é... é
O Nenê é um bebê
Boi de cara preta
Pegue o nenê
Quando chora faz careta.
Á... á... á
Nenê qué apanhá
É... é... é
O Nenê é um bebê
Dorme, dorme nenê
Qu’eu tenho que fazê
Nenê que não dorme
Gatinho vem comê
u... u... u...
Nenê vá dormir...
Á... á... á
Suzana qué apanha
É... é... é
A Suzana é um bebê
Chô... chô pavão
De cima do telhado
Deixe a Suzana
Dormi o sono sossegado.

 

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Nestes quatro “dorme-nenê”, estão presentes os bichos que produzem o medo as crianças: o pavão, o boi e o gato. Nestes outros dois acalantos de uma suavidade sem par, embalam e não aterrorizam, porque não há mitos da angústia infantil embora haja uma promessa de apanhar...
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Dorme filhinho
Qu’eu tenho o que fazê
Vô lavá e gomá
Camisinha pra você
a... a... a...
filhinho qué apanhá
i... i... i...
filhinho vá dormir
Nossa Sinhora
Na bêra do rio
Lavava os paninhos
Do seu bento filio
Ela lavava
São José esprimia
Chorava o menino
Do frio que fazia.

Quando as crianças, já maiores porém ainda com poucos anos de idade, povoam-lhes as mentes com os mitos da angústia infantil, ora é o ratão que mora lá em cima do telhado, é o bicho que vem do rio, a bruxa que chupa o sangue, etc. Malvina disse que, quando seus filhos não querem se alimentar ou dormir, ela os ameaça de chamar um ratão que virá comê-los. Este ratão mora em cima do telhado.

Em casa vai a criança aprendendo os hábitos alimentares, as normas de comportamento.
Nos lares pobres, as crianças, desde cedo, acompanham seus pais até as lagoas de arroz. Quando tal não se dá, ficam em casa em companhia de irmãos mais velhos que freqüentam a escola (grupo) ou sob os cuidados de seus avós. Mas o lugar onde mais ficam é a rua. Esta é a escola sem paredes e onde não há o perigo de atropelos de automóveis ou outros veículos, é a escola do céu aberto onde as crianças aprendem muito do que virão a ser.
Este é um fato concreto: Bibi, de três anos e meio, filhinha do Dr. Lobo, sabe que a mãe vai lhe dar um irmãozinho. Pensa, conforme lhe ensinam os pais, que o nenê virá no bico de um pássaro grande.

Provérbios
O uso de provérbios é bastante disseminado e as repetição deles pelos país é uma forma de ensino. Miguel, ensinado seu filho, a fazer qualquer coisa que recomendara, em tom enfático disse para o menino: “Quem não sabe rezar, xinga a Deus”. Chegou o mais velho chorando, brigara na rua. O pai só disse ao filho desobediente, que se ausentara da frente da sua casa: “Cobra que muito caminha leva pau”.

Caíram as manivas de mandioca no chão. O velho Pedro Castro pediu para seu neto colocá-las no samburá. O menino fez uma verdadeira sujeira na sala. Contrariado, Pedro Castro disse: “Serviço de menino é pouco e quem pede é loco”.

A criança também aprende nos grupos de brinquedo.

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Escorço do folclore de uma comunidade  – Alceu Maynard Araújo in Revista do Arquivo Municipal CLXVI – Departamento de Cultura da Prefeitura do município de São Paulo, 1962
Gifs animados da Animationfactory (ver conexões)
Mapagif: AJZ
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