VIDA SOCIAL: Nascimento
A escolha do nome
Em geral a "criança traz o nome", isto quer dizer que seu nome é dado pelo santo do dia. Se a pessoa é analfabeta o "Dotô farmacêutico" lê na "folinha" (folhinha) ou no "manaque" (almanaque). Esta era a forma usual de se escolher o nome para os recém-nascidos.
Influi grandemente na escolha dos nomes o compadrio. Já em estado de adiantada gravidez se processa a escolha dos padrinhos da criança. E o compadre, não raro, intervem, dando nome ao afilhado.
Há também ultimamente, fenômeno mais comum com as pessoas de melhor situação econômica, a "mania de dá nome de artista de cinema prá pobre criança, e é nomaleada toda atrapalhada de se falá".

Na verdade, dão nomes de artistas cinematográficos, mas a pronúncia deles... é “puramente regional”. Por exemplo: menina com nome Shirley, dizem “Cirlei”; William é “Vilião”. Outros dão nomes aos filhos de personagens dos romances de folhetim. Nomes de vultos históricos, principalmente dos helênicos, são bastante comuns. “Basta o pai ter umas fumacinhas de conhecimento para botar no filho o nome de Tucidedes, Anaximandro, Pitágoras, Péricles, etc.... pobre dos coitados dos parentes mais velhos, nunca chegam a aprender direito o nome dos pequenos, pois os velhos tem língua dura... não vê a velha Cora, jamais aprendeu a falar o nome do neto Pitágoras, para ela é sempre Epitaza, comentou o velho Mané das Dores, meu tempo sim, os nomes eram mais fáceis. Outra mania, explica Dores, é essa de formar os nomes com pedaços do nome do pai e mais o da mãe, dá cada atrapalhada: o sobrinho Jorge casado com Maria estava atrapalhado. Queria formar o nome do filho. Mas, não dava certo: Era... Major, não ficava bem, Ge... ma (não era do ovo), Geria ficava feio, geria o que? E acabou ficando Joana”.

João Gama informou que alguns nomes que não usuais no sul, aqui são comuns: Dorgival, Propércio, Pafúncio, Pancrácio, Epílogo, etc.
Quanto aos poucos evangélicos, notamos que são dados aos filhos os nomes de profetas e outros vultos bíblicos: Jonas, Daniel, etc.
Ao referirmo-nos à escolha de sobrenomes surpreenderam-nos o número imenso de “Santos”: João dos Santos, José dos Santos, Porfírio dos Santos. Parecia primeiramente que se tratava de uma grande família dos “Santos”. Mais tarde explicaram-nos que as pessoas pobres, que nem nome herdaram dos pais são chamados de “fulano dos Santos”. Dores observou-nos quando anotávamos os nomes de um informante: “o sr. não sabe o sobrenome dele, pode botar dos Santos, não vê que ele é pobre, pé rapado, na certa é Zé dos Santos”.
É impressionante o número dos nomes de José dos Santos. Conhecemos cerca de quinze. Há também muitas pessoas que usam dois nomes sem um sobrenome de família. Por exemplo: Maria da Conceição, José das Dores, Maria de Jesus, etc... A razão aqui está: “Me chamo Maria da Glória, só. Não sou filha de casal. Não quero cita o nome de meu pai. Ele é vivo, mora em Coruripe”. Caso como este de Maria da Glória há muitos, porque “filho natural de Grandola não usa o seu sobrenome, nesse caso, o do seu Moreno estava sendo usado por muita gente daqui”, afirmou Frei Adalberto.

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Escorço do folclore de uma comunidade  – Alceu Maynard Araújo in Revista do Arquivo Municipal CLXVI – Departamento de Cultura da Prefeitura do município de São Paulo, 1962
Gifs animados da Animationfactory e slylockfox (ver conexões)
Mapagif: AJZ
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