VIDA SOCIAL: Nascimento
O Parto
Quando uma mulher engravida, imagina que este acontecimento – a concepção, os meses de espera e o parto – é alguma coisa muito íntima, absolutamente privada. No entanto, esta ocorrência é também um fato social: a atitude da futura mãe durante a gestação, sua postura no parto, a assistência que recebe nesta ocasião e os cuidados dispensados ao recém-nascido refletem a sociedade em que a mulher vive.
Em algumas sociedades primitivas, mitos dramáticos costumam ser representados diante da parturiente. Homens, com trajes especiais, tocam instrumentos e entoam canções na cabana onde o bebê vai nascer.
Nas comunidades mais afastadas dos centros urbanos, são geralmente mulheres idosas que ajudam a mãe a dar à luz, valendo-se da experiência adquirida no correr dos anos.

Na ilustração (1513) ao lado, a parturiente dá à luz sentada numa cadeira obstétrica.

Na maioria dessas comunidades, a mulher costuma colocar-se na posição agachada ou de cócoras, esta postura, realmente ajuda pois, implica no relaxamento dos músculos da parede pélvica. A medicina moderna também adotou para a fase de expulsão do feto a posição agachada, ainda que a mulher permaneça deitada na cama. Ela é instruída a fazer movimentos como se fosse sentar-se, não só para ver o filho nascendo, mas principalmente para estimular os reflexos necessários no período de expulsão.

Antigamente, informou o Coronel Dionísio, quando a mulher custava para ter menino, amarrava-se uma corda nos caibros da casa, passando-a por baixo dos braços da parturiente que ficava suspensa. Após ter nascido a criança, a parturiente a fim de se despachar, fechando uma das mãos, assoprava como se estivesse soprando um canudo. As parteiras ensinavam uma rezinha para essa hora:
“Santa Rita não estou prenha
Nem estou parida
Bote-me no rol
das suas escolhidas”.
Há algum tempo, hoje não se faz mais, isto afirma dona Dézinha, as mulheres davam a luz sentadas numa gamela emborcada sobre a qual se colocava uma rodilha de pano. Hoje as “assistentes” já mandam as parturientes se deitarem a fim de ter a criança na cama. Fazem uma coisa que não acho certa: o cordão umbical (umbilical) é só cortado após ter a mulher se despachado. O sexo também não deve ser conhecido antes disso, porque não faz bem à criança. Os médicos mandam, nascida a criança, lhe corte o cordão. Antigamente as mulheres tinham os filhos no chão, ficando a criança no chão sobre a esteira.
O marido está sempre presente ao parto, auxiliando a parteira. O meu auxiliou muito a “assistente” por ocasião de um dos meus partos difíceis. A criança botou a cabeça, as dores e contrações passaram completamente. A parteira mandou que o marido levantasse a mulher e que esta fizesse bastante força. A criança nasceu preta, não chorava. A parteira deu-lhe uma palmada. Antes da criança nascer quando pedi auxílio do marido gritei: “Valei-me minha Nossa Senhora”.

Para “entojos” (enjôos) a água de coco é muito usada, o mesmo acontecendo com o chá da folha de uva. Quando a mulher enjoa, o marido deve dar a ela pra cheirar a cueca que ele já tenha usado. Quando o marido enjoa a mulher, esta deve passar por cima das pernas dele, quando ele estiver deitado. Os homens sabem disso e não gostam. Há também a crença de que a mulher que o fizer consegue dominá-lo.
A higiene da mulher é feita pela parteira, banho de meio corpo, nos primeiros dias, o mesmo acontecendo com a criança. Isto até cair o umbigo. O banho completo, até a cabeça é dado após quinze dias.

Dieta do parto
O resguardo, de trinta dias, deve ser feito do seguinte modo: oito dias de repouso, sendo que algumas se levantam até com três dias. A alimentação é constituída de sopa, caldo de galinha, caldo de carne de gado engrossado com farinha peneirada (esta sopa é chamada “Pará”), alguns peixes, os não “carregados” como a traíra, piau, xira (tirando-lhe o “fio”). Abóbora e maxixe não devem fazer parte da alimentação porque são comidas “carregadas”. Os mariscos também só depois de 30 dias.

Menino ou menina?
Há indícios, segundo várias senhoras entrevistadas, que podem predizer ser homem ou mulher o filho esperado. Se a mulher fica com “panos” (manchas roxas) “tontice” (tonturas), se transforma, sente dores no estomago o filho será homem. Se a “coroa” ao redor do bico do seio ficar muito preta será homem. Se a mulher engordar muito, ficar “quartuta”, “cadeiruda”, será mulher.

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Os rituais do nascimento in Livro da Vida, Vol 1 - São Paulo: Abril S.A. Cultural e Industrial, 1974.
Escorço do folclore de uma comunidade  – Alceu Maynard Araújo in Revista do Arquivo Municipal CLXVI – Departamento de Cultura da Prefeitura do município de São Paulo, 1962
Gifs animados da Animationfactory e slylockfox (ver conexões)
Mapagif: AJZ
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