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O Velório |
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Praticamente em desuso nas cidades grandes, o velório, popularmente chamado de “sentinelas”, é feito durante à noite, quando velam o corpo do falecido, cantando rezas e benditos. É a maneira de encomendar o defunto.
A sentinela é a missa laica da encomendação de defunto feita pelos pobres. A severa repressão policial inspirada pelos padres vem contribuindo para o desaparecimento dessa usança, encontrada apenas nos lugares mais distantes da comunidade. Na cidade, raramente após a morte de uma pessoa, costumam fazer novena, sendo porém, comum nos bairros rurais, onde moram aqueles que não podem pagar missa de sétimo dia. A reza de “sentinela” é “puxada” ou “tirada”, isto é, dirigida por um capelão leigo. Há homens e mulheres que se desincumbem de tal mister, basta apenas ter um bom cabedal de conhecimento das rezas apropriadas para a ocasião. Quando estão no velório e passa alguém perto, uma das pessoas grita: “chegai irmão das alma!” Há também um canto dirigido às pessoas para auxiliem na “sentinela”. É comum dirigirem-se ao defunto na hora em que o estão arrumando na esteira ou no caixão.Nos domingo e dia santo No final da “sentinela”, quando o defunto será levado para ser enterrado, há um canto de despedida de um moço que morreu por causa dos espancamentos da polícia por motivos políticos. Nessa reza, o “puxador” dirigi-se à mãe do morto, único parente que deixara: No decorrer da noite cantam as “incelências”. Cantam sempre doze “excelências”, número dos apóstolos. É um dever do bom cristão participar de uma “sentinela”, por isso ao ouvirem “chegue irmão das alma”, ninguém deixa de atender, ainda mais que é crença de que o defunto enterrado sem ter cantado para ele as “doze incelência” não terá salvação.Sua benção mãi Para criança não há velório, e os pais não devem chorar para que as lágrimas não molhem as asas do anjo da guarda que virá buscá-la.Uma incelência Há tanto respeito quando se canta a “sentinela” que os participantes dessa “missa de encomendação dos pobres” o fazem de joelhos ou em pé, e os que a escutam não devem permanecer sentados ou deitados, mas genuflexos.
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Escorço do folclore de uma comunidade – Alceu Maynard Araújo in Revista do Arquivo Municipal CLXVI – Departamento de Cultura da Prefeitura do município de São Paulo, 1962 Gifs animados da Animationfactory (ver conexões) Mapagif: AJZ |