Sudeste: Cozinha Mineira
Histórico: Apresentação
...  Costume mineiro é comer cinco vezes por dia. Só café, coletivamente, o mineiro toma três. O primeiro é simples e bem cedinho, acompanhado de pão com manteiga ou broa de fubá. No meio da tarde, o segundo café se acompanha de bolo, rosca, biscoitos e queijo fresco. Antes de dormir, café reforçado com quitandas.
Os homens preferem café grosso, forte, de pouco açúcar. Crianças e mulheres tomam café bem ralo, água-de-batata, quase só adoçado. No interior, a rapadura ainda substitui o açúcar para adoçá-lo.
Na chapa quente do fogão, o bule passa o dia vigilante, sempre solícito a mais um gole.
Café na hora e sem adoçar previamente, é só quando há visita de cerimônia. A caneca esmaltada, então, cede lugar à xícara de louça ou porcelana, e o açucareiro soleniza o gesto hospitaleiro.

Adultos quase não tomam leite puro. O costume é tingi-lo de café. As crianças o querem puro ou com chocolate.
O leite mineiro é famoso pela qualidade. A ela se deve o queijo-de-minas, queijo do Serro, que saltou fronteiras. Na roça, o leite com rapadura ou com beiju de farinha de milho (jacuba) também é muito apreciado.

O almoço é bem cedo, antes do meio-dia. Arroz, feijão, carne, angu, legumes e verdura. De sobremesa: goiabada com queijo ou doce de leite.
O jantar é antes das sete da noite: sopa de entrada, e repete-se o trivial do almoço. O pão é pouco usado no almoço ou jantar, embora companheiro fiel do café da manhã e à tarde. Sem falar nas broas e biscoitos.
A carne preferida do mineiro é a de porco, principalmente lombo gordo e lingüiça. Toucinho dá gosto ao feijão.
Peixe de água doce é freqüente na mesa mineira: surubim, dourado, mandi, lambari, bagre e, vez por outra, piracanjuba. Saboroso por costumeiro é o peixe de couro, sem escamas, carne clara e de pouca espinha. O dourado, entretanto, é o rei dos rios, excelente apesar das espinhas miúdas. E prato de festa, com pirão enfeitado de ovos cozidos.
As verduras freqüentes são: couve, ora-pro-nóbis, mostarda, borragem, taioba, grelo de abóbora, broto de samambaia e alface. Os legumes formam rosário: cará, inhame, jiló, abóboras variadas, palmito, chuchu, mandioca, batata e vagem.
Dia de visita ou festa a dona-de-casa vai para a cozinha, ao preparo orgulhoso de pratos especiais. Domingo é reunião de família no almoço e não falta galinha ou frango.

Os pratos típicos já conquistaram o paladar brasileiro, sem falar dos estrangeiros que ficam de água na boca depois de saboreá-los...
No interior o toucinho é muito usado, sem preconceitos e recomendações médicas. Diz o caipira que comida sem toucinho não dá sustança. Ele enriquece de sabor especial a comida. Frito em pedaços, produz deliciosos torresmos.

... Pratos especiais marcam as principais festas do ano: Natal, Ano-bom, casamentos e aniversários, dias santos e domingos em família. Marcam até velórios, em uns lugares mais que em outros, pois o quentão desentristece a saudade do falecido.
Há também os pratos de improviso, trabalhados ao calor da hospitalidade mineira. Hospitalidade sem aviso prévio, porque aviso é descrença na hospitalidade verdadeira.

... Quintal de folhas no chão e frutas nas árvores, cacarejo de galinhas ciscando. Repiques de sino convidando para as festas de padroeira, apito de trem cortando a cidade. Roupa limpa das missas de domingo; namoro em banco de praça, tricô em cadeira de balanço.
Roda de velhos no café da esquina.
... Na cidade ou no campo, em Minas, há sempre um aviso não escrito:

Cheguem-se, a casa é sua! 
   Uai! Desculpem alguma coisa...

Maria Stella Libanio Christo
Belo Horizonte, 1976.

Fogão de Lenha – 300 anos de cozinha mineira / Maria Stella Libânio Christo. – Petrópolis: Editora Vozes Ltda, 1978 – 2ª edição.
 
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