Nuvem Branca do Jaraguá
O Jaraguá é o marco da desobediência ao Tratado das Tordesilhas, que delimitava as fronteiras do Brasil. É o símbolo do bandeirismo expansionista. Uma página da história do Brasil, um marco na imensidão do nosso país.
O pico do Jaraguá, senhor dos montes, via passar ao seu sopé os caminhos que conduziam primeiro os índios, depois os bandeirantes pelo Brasil.
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Descendente do bandeirante Bartolomeu Paes de Abreu, da linhagem de Pedro Taques, o saudoso Acácio de Villalva narrou esta lenda que ouviu seus antepassados contar, tradição guardada em família através de várias gerações.
A casa em que ele nasceu era onde está hoje o monumento a Pereira Barreto, na praça Marechal Deodoro. No vasto e solarengo casarão que ali existia, cercado de palmeiras imperiais, do terraço voltado para o poente via-se o morro do Jaraguá, sentinela vigilante dos fastos paulistanos.
Ao entardecer, quando o sol se punha por detrás do gigante. Lá no horizonte, na hora da Ave-Maria, a família reunida no confortável alpendre rezava com as vistas voltadas para o Jaraguá. À oração vespertina muitas vezes ouvira a narração avaramente guardada pela família paulista quatrocentona – a nuvem branca do Jaraguá.
Quando de São Paulo partiam as bandeiras sertão a dentro, por dois ou três dias de caminhada, ainda conseguiam avistar o Jaraguá.
Então, as mães, esposas e filhas que tinham seus filhos, maridos e pais nas bandeiras, subiam até o pico do Jaraguá e, de lá, com lenços brancos ou lençóis amarrados à guisa de bandeira, acenavam ao que cada vez mais se distanciava. Era o adeus!...
Quantas lágrimas derramadas naquela escalada, quanta esperança não se tornava em desespero, após esta última despedida.
Agora, quando uma nuvem branca aparece cobrindo o cimo do Jaraguá, em dia de céu límpido, é a alma daquelas que morreram de tanto esperar, e ali voltam para a despedida final.
A nuvem branca é a soma de milhares e milhares de gotas de lágrimas derramadas pelas que foram dizer adeus ao bandeirante que partia para prear índios, buscar ouro, alargar as fronteiras do Brasil.
E hoje, mesmo que seja lenda, a verdade é que em maio, mês em que as bandeiras partiam, embora o céu esteja todo cor de anil, lá em volta do pico do Jaraguá existe uma nuvem branca recontando o passado glorioso dos paulistas – é a Nuvem do Adeus!...
Texto de Alceu Maynard Araújo
BRASIL, histórias, costumes e lendas - São Paulo: Editora Três LLtda., s/data
Ilustração: José Lanzellotti
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