Mitos coletados por Nimuendaju
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Desde a primeira metade do século XVIII, habitou a tribo dos Masakarí em diversos pontos dos atuais estados de Minas e Bahia, entre os rios Jequitinhonha e São Mateus. Atualmente ainda subsiste um resto de umas 120 cabeças nas nascentes do rio Itanhaém, em território mineiro, junto à fronteira da Bahia. A língua Masakarí forma com quatro outras línguas extintas da mesma região uma família própria. A tribo foi visitada por Nimuendaju em 1939.*
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Sol e Lua
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O Sol, Manyuán, é masculino, a Lua, Manyuan-hey, feminina (hey - mulher). As manchas da Lua são queimaduras que recebeu quando pediu fogo ao pica-pau. Este tinha o fogo no seu topete de penas vermelhas. Mandou-a limpar bem o chão debaixo da árvore em que estava sentado, mas a Lua não cumpriu bem a ordem, limpou-o mal, e, quando o pica-pau atirou as penas de fogo para baixo, a vegetação se incendiou e a Lua ficou desfigurada pelo fogo.

Numa outra lenda, transforma-se primeiro o Sol, depois a Lua, em capivara, para roubarem as flechas de certos demônios. O Sol cobriu as costas com uma grossa casca de madeira na qual as flechas que os demônios lhe atiravam ficavam fincadas sem lhe fazer mal. A Lua, não tomando essa precaução, foi morta pelas flechas¹.
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1- Os dois episódios fragmentários dessa lenda indicam que os Masakarí possuem um mito de Sol e Lua, semelhante ao dos Kamakã, e também dos Šerente e Timbira. O fato de que no mito Masakarí a Lua, feminina, também toma parte no roubo das flechas torna provável que eles, ou adotaram a lenda de outra tribo onde o Sol e a Lua são ambos masculinos, ou adotaram secundariamente o conceito de que a Lua  é feminina. Em favor da segunda hipótese fala o seguinte: no vocabulário Masakarí de Saint-Hillaire, Sol e Lua ainda não se chamam, como hoje, Manyuán e Manyuan-hey, mas Apocai e Puá, como entre as tribos, estreitamente relacionadas aos Masakarí, dos Makuní (Apucaai e Puaan) e Kapošó (Apucoj e Pua). Os nomes atualmente usados pelos Masakarí procedem visivelmente da língua dos Patašó, que chamam Sol e Lua de Manu (cf. Wied: Mayon) e Manun-tiá (cp. Patašó: bek-tiá = mulher).

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