Waimiri-Atroari
(Reportagem de 1996)
 
Desproporção
Em janeiro de 1879 o brigadeiro João de Barros Falcão liderou outro confronto com os vaimiris-atroaris. Dessa vez morreram 400 índios. O brigadeiro revidou um ataque à vila de Moura, à margem direita do Rio Negro, onde dois brancos tombaram vítimas dos índios.
Em 1905, por causa de um incêndio num barracão ocupado por um homem chamado Antunes e atribuído aos índios, o governo do Amazonas mandou mais uma força policial contra os vaimiris-atroaris. O grupo era comandado por um homem de nome sintomático: capitão Catingueira. O capitão e seus comandados, dessa vez, mataram 283 índios, novamente incluindo mulheres, velhos e crianças. Como prova de coragem, o capitão levou a Manaus 18 prisioneiros.
Estes são alguns dos registros dos choques que opuseram os vaimiris-atroaris aos brancos.
Em outubro de 1944, os índios mataram o tenente estadunidense Walter Willianson e dois de seus acompanhantes. Desobedecendo instruções dos funcionários do SPI, a quem chamou de “medrosos” o tenente abusou da imprudência no contato com os índios, desconfiados das intenções dos brancos.
Em 1968, os vaimiris-atroaris liquidaram também a expedição do padre italiano Giovanni Calleri, formada por 12 pessoas, das quais apenas uma escapou. Paulo Mineiro, o sobrevivente, havia alertado o padre várias vezes sobre seus métodos autoritários e desrespeitosos sem ser ouvido.
Em 30 setembro de 1974 seis agentes - da Funai, que substituíra o SPI - foram mortos junto ao rio Alalau. Eram companheiros de José Porfírio de Carvalho. Sobre essas mortes, o respeitado sertanista Gilberto Pinto Figueiredo disse: “Eu nunca quis saber porque os índios mataram ou deixaram de matar. Tenho-os como meus filhos, considero-os o prolongamento de minha família. Ando armado na floresta, mas não atiro nos índios em caso de ataque. Se me matarem um dia, paciência...” Gilberto foi morto pelos vaimiris-atroaris em 28 de dezembro de 1974.  Tentava diluir tensões criadas pela arrogância de um militar que comandava, a abertura da BR-174. A estrada rasga o território índio e liga Manaus a Caracas, na Venezuela, passando por Boa Vista, em Rondônia.
Segue
Texto de Ulisses Capazoli
Fotos de Itamar Miranda/AE
Caderno Extra - O Estado de  S. Paulo - 8 de dezembro de 1996
Terra Brasileira