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A Divisão de Alimentação |
Nessa aérea, o Birô anunciou que se preocuparia com os problemas relativos à nutrição e abastecimento de alimentos no continente. De modo semelhante ao programa de saúde, estabeleceu-se uma comissão mista, com representantes do Birô e do Ministério da Agricultura, chamada Comissão Brasileiro-Americana de Produção de Gêneros Alimentícios. Eram bem ambiciosos os objetivos dessa super-comissão, que pretendia:
Apesar das dimensões ambiciosas do programa, as atividades concretas da Comissão cingiram-se à distribuição de sementes e produção direta de alimentos (verduras, legumes, ovos e carnes) em áreas selecionadas do país.Foram beneficiadas regiões do Nordeste brasileiro e Amazônia. Iniciou-se também, em função dessas atividades de curto prazo, um projeto de assistência técnica que levou agrônomos, nutricionistas e professores aos Estados Unidos para programas de treinamento. Ao mesmo tempo, vinham ao Brasil professores e técnicos estadunidenses. Como os demais programas de assistência, este também era de mão única; os brasileiros iam aos Estados Unidos aprender sobre a modernização da vida rural estadunidense, enquanto os técnicos e cientistas mobilizados por Washington vinham ensinar como tais concepções inovadoras podiam e deviam trazer mudanças sociais à agricultura brasileira. Por isso, a experiência do Birô, embora tivesse sido curta (1940-46) foi importante para o estabelecimento de influências a longo prazo, o que foi feito por intermédio da educação rural – a intensificação da influência sobre as escolas de agronomia – de modo a compartilhar técnicas brasileiras à visão das agências estatais estadunidenses e dos produtos da indústria estadunidense. A partir do final da guerra, firmaram-se programas de educação rural – mais tarde, de “extensão rural”- que consolidaram a perspectiva estadunidense sobre o rural brasileiro. Voltando porém aos objetivos mais imediatos do programa de alimentação durante a guerra, constatamos que a maior realização da Comissão foi o suprimento de frutas, vegetais e carnes frescas às unidades militares estadunidense e brasileiras estacionadas no Nordeste e na Amazônia, as regiões estrategicamente mais importantes do país. É verdade que o Birô cogitou de ampliar suas atividades naquele começo da década de 40, mas outras agências do governo estadunidense exigiram que as atividades do Birô se limitassem a “operações ligadas ao esforço de guerra”. Desse modo, Tio Sam tratou de colocar o Birô no seu devido lugar: ele fora criado para agir no plano imediato da guerra e dos planos estadunidenses para ela e não podia extrapolar para outras atividades do tipo alimentação da população brasileira em geral. De que maneira o governo Vargas reagiu a essa presença estadunidense maciça? Por volta de 1940, havia uma divisão profunda dentro do governo brasileiro, que se expressava, por um lado, pela defesa de uma neutralidade estrita e, de outro, pela defesa de uma aproximação com os Estados Unidos. Havia portanto setores favoráveis a presença estadunidense, em nome da luta anti-nazista, enquanto outros tentavam evitá-la em nome da neutralidade (ou de sentimentos pró-germânicos). |
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Tio Sam chega ao Brasil: a penetração cultural americana / Gerson Moura. - 1. ed. - São Paulo: Brasiliense, 1984. - (Coleção tudo é história; 91)