Bases Militares no Nordeste
 

Ao mesmo tempo em que concordava com os programas culturais e assistenciais estadunidenses, o governo Vargas literalmente arrancou dos Estados Unidos os acordos que permitiram a construção da siderúrgica de Volta Redonda, base fundamental da industrialização brasileira. Concordou em fornecer materiais estratégicos com exclusividade para os Estados Unidos, mas insistiu em receber armas e munições para reequipar as Forças Armadas brasileiras.

Entre 1942-1944, esse processo de colaboração/barganhas atingiu seu ápice. O Brasil concordou em romper relações diplomáticas com o Eixo quando o fornecimento militar ficou definitivamente estabelecido. Aceitou tropas estadunidense no Norte/Nordeste brasileiro quando acordos militares e econômicos de colaboração foram efetivamente assinados em Washington. Apoiou politicamente o governo Roosevelt, mas formulou um projeto de participação direta na guerra mediante o envio de uma força expedicionária à Europa.
 

IJSIS
Durante a guerra, o presidente Rooselvelt visita Natal (RN) com Vargas (atrás)

“Tratava-se de jogo de competência política, entre sorrisos e charutos. São dois profissionais do poder. O presidente estadunidense agradece o fato de o Brasil ter permitido aos Estados Unidos implantarem, desde 1942, bases militares em nosso litoral norte, que seriam a ponte para seus aviões se reabastecerem na invasão do norte da África. Roosevelt queria espaço para mais bases e maior movimentação. Estava claro, sem ninguém ter afirmado, que se tivéssemos negado as bases – que também se estabeleceram em Belém, Fortaleza, São Luís, Natal, Recife e outras cidades – os estadunidenses as teriam tomado à força. Eram essenciais porque os aviões, na época, não dispunham de autonomia para voar dos Estados Unidos à África sem reabastecimento.

Aquela boa vontade brasileira, forçada ou não, tinha o seu preço, Roosevelt bem sabia. Há décadas que o Brasil, como qualquer outra nação subdesenvolvida do Hemisfério Sul, ansiava por dispor de uma usina siderúrgica, naqueles idos uma das chaves para o desenvolvimento e a afirmação da soberania. O aço era a porta para o progresso. As nações ricas, por um acordo não escrito, negavam-se a repassar a tecnologia siderúrgica, preferindo ter-nos como meros exportadores de minério de ferro e consumidores do aço que produziam.

Quando Getúlio vai tocar no assunto, Roosevelt, que já sabia, antecipa-se e promete que em menos de três meses o governo brasileiro receberia, desmontada, uma usina siderúrgica. O pacto estava selado, as bases militares estadunidenses aumentaram de tamanho e de número e a siderúrgica chegou mesmo, constituindo-se num marco do desenvolvimento brasileiro, instalada em Volta Redonda.
Depois de dois dias de conversas e banquetes na capital do Rio Grande do Norte, despedem-se os dois presidentes.” (1)
 

Construção da Companhia Siderúrgica Nacional nos anos 40
(Arquivo do Estado de São Paulo/Fundo Última Hora)

Essa colaboração não esteve isenta de atritos e o programa do Birô Interamericano não foi aceito em sua totalidade pelo governo brasileiro. Houve resistências isoladas ou gerais a certos itens do seu programa, especialmente no plano econômico. Numa avaliação geral, pode-se dizer que o governo Vargas julgou inevitável a colaboração brasileiro-estadunidense a partir do envolvimento dos Estados Unidos na guerra (1941) e tratou de extrair dessa circunstância incontornável os melhores benefícios possíveis. Alinhou-se, mas cobrou um preço pelo alinhamento.

 


 
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Coca-Cola no Brasil


Tio Sam chega ao Brasil: a penetração cultural americana / Gerson Moura. - 1. ed. - São Paulo: Brasiliense, 1984. - (Coleção tudo é história; 91)
Quadro 1- O Brasil sem retoque: 1808-1964: a História contada por jornais e jornalistas, volume I / Carlos Chagas. – Rio de Janeiro: Record, 2001
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