Áreas de atuação do Birô no Brasil
A Divisão de Informações
 
A imprensa



Desde o início do programa, o Birô promovera negociações com as agências United Press e Associated Press, no sentido de elaborarem e difundirem notícias favoráveis aos Estados Unidos, assim como notícias sobre a América Latina para a imprensa dos Estados Unidos. (Não poupou esforços também para obter o afastamento da agência de notícias alemã e italiana do Brasil). Desse modo, 422 publicações (jornais e revistas) das principais cidades brasileiras recebiam, a cada ano que passava, dezenas de milhares de notícias e fotografias, assim como milhares de artigos sobre as relações interamericanas.

Foi graças ao Birô que o Rio de Janeiro obteve o primeiro aparelho de recepção e transmissão de radiofotos. A primeira radiofoto transmitida do Brasil para os Estados Unidos mostrava o presidente Vargas juntamente com Jefferson Caffery, o embaixador estadunidense no Rio.
A operação “divulgação de notícias” se fazia em duas direções: havia notícias dos Estados Unidos no Brasil e notícias do Brasil nos Estados Unidos (estas em menor escala, reproduzidas depois nos jornais brasileiros). O Birô dispunha de uma arma poderosa para assegurar sua vontade: Devido à escassez de papel de imprensa, as licenças de exportação de papel dos Estados Unidos eram facilitadas para os jornais favoráveis à causa estadunidense. Além do papel de imprensa, os jornais favoráveis eram também beneficiados com a propaganda de produtos estadunidenses – um projeto concebido pelo Birô nos Estados Unidos com a finalidade de dar assistência econômica aos jornais da América Latina e, concomitantemente, assegurar uma reserva de mercado no continente para o pós-guerra.
 

O Birô estimulou, por exemplo, centenas de empresas privadas estadunidenses a colocar anúncios de seus produtos nos jornais e revistas de toda a América Latina. A receptividade a essa campanha foi grande e – só para tomar um exemplo – em 1943, um total de 210 firmas comprometeu-se gastar um total de 11 milhões e oitocentos mil dólares em anúncios no Brasil. (Os mais dispostos a gastar eram a Sterling Products, a Standard Oil, a Coca-Cola e a RCA Victor). Ora – direis – por que anunciar mercadorias se a produção de bens de consumo em 1943 era reduzida e havia uma acentuada escassez de transporte marítimo? O Birô teria respondido sem pestanejar: o projeto de anúncios em jornais e revistas é “parte de um esforço amplo de bom vizinho para promover ajuda entre as Américas”. Mas há outra explicação:
Revista O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 1946

A ajuda, no caso, tinha foros de verdade, visto que a campanha iria favorecer financeiramente os jornais e revistas do Brasil (e da América Latina) que estavam (estão) sempre precisando de subsídios. Além disso, o projeto se casava bem com as noções de “esforço de guerra” de todo o continente: os anúncios explicavam as razões da escassez naquele momento e a necessidade de sacrifícios imediatos (no consumo), de modo a garantir a abundância do futuro (pós guerra). A campanha compunha-se magnificamente com o “projeto de desenvolvimento” que Tio Sam elaborara para a América Latina. O “sacrifício” daqueles anos de guerra significa, em última análise, que os países latino-americanos deveriam evitar a instalação de indústrias (até mesmo de bens de consumo) que substituíssem importações feitas nos Estados Unidos, de modo a poderem comprar de Tio Sam esses produtos quando normalizassem depois da guerra a produção industrial estadunidense e as relações comerciais entre o país do norte e os países do sul.
 

Seleções: uma arma do "front ideológico", segundo seus próprios autores.
(Revista O Cruzeiro 1942)
Em plena guerra, a RCA Victor busca consumidores para a televisão no pós-guerra.
(Revista O Cruzeiro, 1944)
Até os fabricantes brasileiros entram na onda: o Pato Donald passa a anunciar o guaraná.
(revista O Cruzeiro, 1943)

A revista Seleções (Reader’s Digest), que estava entrando a todo o vapor no continente, absorveu e difundiu magnificamente essa visão entre os empresários estadunidenses; ela costumava argumentar nessa época que ambos (empresários e revista) deveriam trabalhar juntos: os empresários no “front econômico”e Seleções no “front ideológico”...

Além de atuar na imprensa brasileira, a Divisão de Informações do Birô dedicava-se a outras atividades de divulgação. Publicava e distribuía séries de folhetos, entre os quais um se mostrou particularmente bem-sucedido. Intitulava-se “Em Guarda” e sua distribuição média na América Latina alcançava 500 000 exemplares mensais. Só em 1943 no Brasil foram distribuídas 658 360 cópias desse folheto, cada cópia alcançando em média 5 leitores, de acordo com o próprio Birô. Além de panfletos, produziam-se também mapas, pôsteres e caricaturas. Entre os pôsteres, os mais populares eram “A marinha de dois oceanos”, “Não deixemos o Eixo meter suas garras nas Américas”, “Lutamos pela liberdade de todos” e “A união faz a força”. Era grande também a distribuição de bandeiras estadunidenses e retratos dos presidentes Washington e Roosevelt. As empresas de transporte estadunidense e britânicas (como a Panair e a Leopoldina) colaboravam na distribuição desses materiais pelo interior do Brasil, além dos Correios do Rio e São Paulo.
 

Revista O Cruzeiro, 1953
Nos anos 80, heróis infantis (Popeye e Brutus) anunciam calças jeans (1982)

 


 
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Tio Sam chega ao Brasil: a penetração cultural americana / Gerson Moura. - 1. ed. - São Paulo: Brasiliense, 1984. - (Coleção tudo é história; 91)
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