Áreas de atuação do Birô no Brasil
A Divisão de Saúde
 

O Birô criado pelos Estados Unidos começou também a se preocupar, a partir de seus próprios “padrões” de saúde, com a situação sanitária do Brasil e com a saúde dos brasileiros. Desde de 1941, ele começou a planejar atividades que pudessem “aliviar os problemas de saúde do hemisfério” e dois anos depois já se empenhava no Brasil em projetos de controle da malária, assistência médica para trabalhadores, treinamento de médicos e enfermeiras, distribuição de literatura médica e bolsas de treinamento nos Estados Unidos. No final de 1943, três mil pessoas estavam trabalhando nesse programa, sendo 65 deles estadunidenses e os demais brasileiros. O programa de saúde do Birô se fazia em conjunto com o Ministério Brasileiro de Educação e Saúde: o Birô implantava os projetos, que seriam depois continuados pelo Ministério. Previa-se um investimento de 8 milhões de dólares pelo Birô, em quotas decrescentes; de outro lado, o governo brasileiro contribuiria com quotas crescentes.

Foram dois os grandes projetos implementados: o Amazonas e o Rio Doce. Em ambos os casos, preocupava-se o Birô com o controle da malária, assistência médica aos trabalhadores e melhoramento das “condições sanitárias” em geral.
O projeto Amazonas instalou um laboratório de análises em Belém, treinou “guardas” para combater a malária, criou um pequeno hospital de doenças tropicais, estabeleceu 30 centros de saúde na região, promoveu a drenagem de solos propícios à reprodução da doença e distribuiu milhões de cápsulas de remédios. Programa semelhante, em menor escala, foi igualmente aplicado ao Vale do Rio Doce.

Outros projetos menores estavam de algum modo ligados aos dois primeiros: era o caso da assistência para migrantes (Norte/Nordeste), treinamento de enfermeiras e educação médica (esta incluía bolsas para treinamento de técnicos nos Estados Unidos, distribuição de literatura médica e educação em saúde pública).

Podemos entender melhor essa preocupação súbita do Birô em “melhorar as condições de saúde dos brasileiros”, quando descobrimos que os olhos de Tio Sam estavam postos também em outras “realidades”: os planejadores estadunidenses sabiam que seu governo iria provavelmente enviar forças militares para certos lugares da América Latina e alguns desses lugares não teriam boas “condições sanitárias”, segundo sua própria definição do que seriam tais condições. Era preciso assegurar a saúde de seus soldados. Além disso, certas regiões latino-americanas seriam decisivas do ponto vista do fornecimento de materiais estratégicos, como a borracha, ferro, manganês, cristais de quartzo etc.; era vital assegurar as melhores condições de trabalho nessas regiões que, na concepção do Birô, também não eram “saudáveis”. Por isso a Amazônia e o Vale do Rio Doce foram as regiões beneficiadas por seu programa de saúde. Havia também uma consideração adicional, de natureza política, ao se implantar um programa de saúde como este: Tio Sam provaria com atos concretos o benefício de sua presença no Brasil e poderia, com isso, ganhar a confiança da população civil.

Se o programa de saúde do Birô não chegava a “aliviar os problemas de saúde” do país, pelo menos assegurava na cabeça dos chefões do Birô as melhores condições para a “batalha da borracha” e a extração do minério, além de dar maior segurança às tropas americanas desembarcadas nos trópicos. Os objetivos imediatistas do Birô e sua ligação direta aos programas estratégicos de Tio Sam ficavam assim perfeitamente claros no seu programa de saúde para o hemisfério.
 


 
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Tio Sam chega ao Brasil: a penetração cultural americana / Gerson Moura. - 1. ed. - São Paulo: Brasiliense, 1984. - (Coleção tudo é história; 91)
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