Saber um pouco mais... (3)



 
 
 
 
 
 

Pescador da Ilha de Marajó (PA)
Foto: Araquém Alcântara (1997)

E quanto maior for o descaso nacional maior será o apetite estrangeiro. A senadora Marina Silva classifica pelo menos três maneiras distintas de observar-se o interesse internacional. Uma delas é mitificada pelo referencial simbólico do que a Amazônia representa para o imaginário global. “O homem vive de sonhos, de esperança e tem muita expectativa quanto aos segredos da Amazônia”, acredita. Na outra ponta, há um tipo de interesse econômico tangível relacionado à exploração da madeira, minérios e, especialmente, da biodiversidade por parte das indústrias de cosméticos e farmacêuticas, negócios com previsão de faturamento mundial próximos de 800 bilhões de reais (com “b”!) em 2002. Numa classificação intermediária, está o interesse global de âmbito ambientalista e conservacionista. Nesse aspecto, aliás, o interesse internacional parece maior que a atenção prestada dentro de casa.

 
 
 
 
 
 

Pescadores no rio Juruá (AC)
Foto: Araquém Alcântara (2000)

 
As previsões de escassez de água num futuro próximo fazem do potencial hídrico amazônico um templo de adoração. E não há como falar sobre o assunto mais em pauta da atualidade, o aquecimento global, sem mencionar os dois pólos da bateria amazônica. Um, o positivo, é o serviço que a floresta presta enquanto sumidouro de gás carbônico, um dos principais gases causadores do efeito estufa. A significativa quantidade de CO2 tirada da atmosfera por ser fixada pela floresta faz dela um filtro ecológico. O lado ruim é que a quantidade de gás emitido pelas queimadas estraga boa parte desse esforço.

 
 
 
 
 
 

Catador de piaçava no rio Araçá, Barcelos (AM)
Foto: Araquém Alcântara (2000)

Para a senadora, é compreensível a preocupação ecológica mundial. “Essa desconfiança decorre de nossa falta de planejamento, de utilização inadequada, falta de sustentabilidade, falta de alocação de recursos. Nossa política gerencial é falha”, afirma Marina Silva. Entretanto, observa ela, fazer discussão puramente ambientalista não interessa ao Brasil. A defesa do meio e da natureza tem de estar colada a interesses sociais. “Prejuízos ambientais são distribuídos para todos e a preocupação global com o equilíbrio é real, mas o principal interesse na internacionalização é econômico e, nesse ponto, nenhuma potência mundial pára para pensar que na Amazônia Brasileira vivem quase 20 milhões de brasileiros”. A senadora defende que um projeto nacional que almeje equilíbrio e desenvolvimento para a Amazônia requer visão desdobrada em cinco dimensões: sustentabilidade ambiental, econômica, social, cultural e política, não necessariamente nessa ordem. “Por fim, tudo isso tem de estar amarrado pela sustentabilidade ética. Nosso desafio ético é viabilizar o desenvolvimento sobre pilares. E todos os setores envolvidos, das populações ao governo central, precisam participar da formulação das soluções. Se tivermos capacidade de dar essas respostas podemos colocar o Brasil no topo da respeitabilidade mundial”.

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Paulo Donizetti / Amazônia o alvo da maior cobiça do mundo (colaboração Glauco Faria) in Revista Fórum n.º 1, agosto de 2001, São Paulo: Editora Publisher Brasil.
Fotos de Araquém Alcântara / Biodiversidade na Amazônia Brasileira - São Paulo: Co-edição Instituto Socioambiental e Editora Estação Liberdade, 2001.