Saber um pouco mais... (4)


Enquanto isso não acontece a imagem que fica é a da destruição. O jornalista e ambientalista Washington Novaes diz que a biodiversidade é a maior riqueza da Amazônia e pode estar sendo perdida em razão do desmatamento e da exploração predatória. Novaes diz não conhecer nenhum projeto de internacionalização da Amazônia, mas assinala que a preocupação ambiental é um fenômeno que não tem fronteiras. “O que acontece num lugar afeta o resto. Se o Brasil não for competente, se não souber preservar, é lógico que as pressões internacionais vão aumentar”. O problema, para ele, é que o Brasil não tem sido competente. “Continuamos desmatando sem regras. Avançamos as fronteiras agrícolas até a região amazônica quando a ciência já disse que o solo e o clima não favorecem a agricultura. Fazemos vias de transporte que têm impacto ambiental enorme e construímos hidrelétricas para produzir alumínio, que nenhum país do mundo quer fabricar devido aos prejuízos ecológicos que causa”, enumera.
Queimada no Parque Nacional do Amazonas (PA)
Foto: Araquém Alcântara (1997)
De fato, o desequilíbrio entre as cabeças pensantes é também amazônico. Mesmo alertados por cientistas, fazendeiros depenaram grandes áreas de floresta para tentar cultivos. Boa parte dessa devastação irracional contou com apoios governamentais. Foram necessários anos de prejuízos e desperdícios de dinheiro público, inclusive via Sudam e Banco da Amazônia, para só agora algumas autoridades começarem a se tocar de que o solo da região é praticamente imprestável para as culturas agropecuárias. Outro negócio da China e da Malásia, e da Indonésia, e do Japão, segundo o Greenpeace, são as madeireiras. Negócio também descoberto por empresas brasileiras, mas, com uso de tecnologia errada e apetite voraz, mesmo a exploração de madeira é altamente destrutiva. A extração ilegal e predatória de madeira é outra fonte de sangria da floresta. O próprio governo federal já sabe que 80% da extração é ilegal, mas entre saber e tomar atitudes, muitas vezes ferindo interesses de aliados políticos, há grande diferença.

 
 
 
 
 
 

Pecuária em floresta degradada no Pará
Foto: Araquém Alcântara (1997)

 
O fato é que com a prática da agropecuária, a extração de madeira, a construção de estradas e usinas hidrelétricas, a exploração de minérios – tudo desprovido de um mínimo de planejamento -, um terço da floresta ficou pelado. E o pior: por atividades que, embora pareçam atrativas para a economia local, têm algo de antropofágico. O coordenador de campanhas do Greenpeace para a Amazônia, Paulo Adário, lembra, como exemplo, que quando a empresa Paragominas instalou-se no Pará vários trabalhadores migraram para lá. “A empresa extraiu toda a madeira que podia e depois foi embora. Todos ficaram sem emprego. Foi um caos social”.


Madeireira em Ariquemes (RO) - Foto: Araquém Alcântara (1996)

Paulo Adário considera que é preciso haver distinção entre os interesses internacionalistas. “Muitas pessoas acham, de forma equivocada, que as ONGs são agentes do capitalismo do capitalismo internacional, que trabalham pela internacionalização da Amazônia. O discurso nacionalista muitas vezes esconde interesses internacionais quando, por exemplo, defende a extração de minérios na Amazônia. O que está em jogo são os interesses de indústrias nacionais e estrangeiras que só estão de olho no lucro. E vendem a imagem de que são aliados do desenvolvimento. A WTK, multinacional malaia, compra terras a preço vil e não há um grito contra isso, se preocupam com as ONGs”, esbraveja. Para o coordenador do Greenpeace, a legislação brasileira é insuficiente e não há mecanismos para que seja cumprida. “A solução passa pela instituição de uma política nacional, o país precisa definir o que quer da Amazônia. A Ásia está degradada e, na África, o que sobrou foi leiloado”.

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Paulo Donizetti / Amazônia o alvo da maior cobiça do mundo (colaboração Glauco Faria) in Revista Fórum n.º 1, agosto de 2001, São Paulo: Editora Publisher Brasil.
Fotos de Araquém Alcântara / Biodiversidade na Amazônia Brasileira - São Paulo: Co-edição Instituto Socioambiental e Editora Estação Liberdade, 2001.