O Garimpeiro
(Tipo popular nas Regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste)


A denominação - garimpeiro - veio de um vocábbulo pejorativo - Grimpeiro.
Os grimpeiros subiam as grimpas no passado, fugindo ao fisco. Eram os grimpeiros, mais tarde garimpeiros. O nome hoje não tem mais o sentido pejorativo. É o nome de homens arrojados que lutam na extração de pedras preciosas, ou de ouro, nos terrenos de aluvião ou quebrando cascalhos para a busca de metais preciosos.

O garimpeiro muda a fisionomia da paisagem em que trabalha, por causa dos desmontes. A técnica extrativa ainda é muito primária. Muitos garimpeiros são explorados. Pagam taxas altas. Quando não tem ferramentas nem capital recorrem ao meia-praça, pessoa que financia e fica com 50% do que é encontrado. Existe também o sistema de sujeição: picuá-preso, a pessoa que faz o empréstimo tem o direito da "primeira vista", de escolher o que quiser e pagar o preço que impuser.

Faiscação: é o termo usado na procura de ouro nos cursos d'água ou nas areias que faiscam à luz do sol, nos bicames (calhas) de madeira, que trazem na água as areias auríferas para os decantadores.
Os instrumentos usados são: batéias, pás, bicames, peneiras, canoas pequenas, agitadores, etc.

As Minas Gerais

O Português branco, o negro e o índio tinham percepção e motivação próprias sobre o ouro. Washington Albino resume muito bem o que a riqueza da mineração significava para cada um. Para o índio, não representava nada, mas para o paulista mameluco era o meio de afirmação perante o português colonizador, a quem não queria ceder posições, como se viu na guerra dos Emboabas. Para o negro, significava um meio de obter a liberdade, a carta de alforria, que ele comprava com o ouro lavrado para si próprio, aos domingos, com a autorização de seu senhor, ou clandestinamente, sobretudo à noite, quando então o metal no cabelo carapinha. Já para o português o ouro era igual a poder total, a medida de todas as coisas nos séculos do mercantilismo.

A primeira descoberta oficial de ouro no sertão recém-devassado só foi registrada por Antônio Rodrigues Arzão, possivelmente em 1693, no lugar chamado “Casa da Casca”.
Todavia, há poucas dúvidas de que Manoel Borba Gato, genro de Fernão Dias, e sua gente foram os primeiros descobridores de ouro em Sabarabuçu (hoje Sabará), Sertão do Rio das Velhas. 
De qualquer forma, nos últimos dez anos do século XVII começou a corrida do ouro para as minas, surgidas principalmente em torno de Sabará e Caeté, Ouro Preto e Mariana, São João Del Rei e São José Del Rei (atual Tiradentes).
Em pouco tempo, os “descobertos” foram se enchendo de gente de toda a parte, sobretudo do Rio de Janeiro e Bahia, regiões mais populosas da Colônia, e também de Portugal.
Apesar dos métodos rudimentares de mineração, o historiador Sérgio Buarque de Holanda registra que as remessas de ouro de Minas para Portugal saltaram de 725 quilos em 1669 para 1.785 quilos em 1701 e para 4.350 quilos em 1703.
Quando escasseou e requereu técnicas mais apropriadas e intensificação da extração, Portugal não conseguiu impedir um maior ingresso de forasteiros, sobretudo portugueses.
Esse novo contingente muito mais numeroso, rico, preparado e ambicioso não demorou a fazer guerra aberta aos paulistas – a Guerra dos Emboabas, nome pejorativo que era dado aos portugueses recém-chegados a Minas, possivelmente por causa das polainas que usavam. O conflito, que durou de 1708 a 1709, teve lances heróicos, com os emboabas (aqui incluídos os baianos, cariocas e demais forasteiros) aclamando seu chefe, o fazendeiro português Manuel Nunes Viana, “governador de todas as Minas”. E teve lances trágicos, como a matança de paulistas na emboscada de Capão da traição, perto da atual Tiradentes.
Contudo a guerra resultou na organização administrativa e política da região, pelas autoridades coloniais. No dia 9 de novembro de 1709, foi criada a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro. O primeiro governador, ou capitão-geral, foi Antônio de Albuquerque. Fundou em 1711 as vilas que mais tarde seriam Mariana, Ouro Preto e Sabará. De sua subdivisão surgiram em seguida as vilas que, hoje, são as cidades de São João Del Rei (1713), Caeté e Serro (1714), Pitangui (1715 e Tiradentes (1718).
Para o povo mineiro de então, a possibilidade de enriquecimento era cobrado muito caro por Portugal. Este queria, de qualquer jeito, os seus 20 por cento do ouro extraído (o quinto), além dos imposto e taxas que cobrava também sobre transações e tráfego de outras mercadorias. Por isso, o conflito era inevitável.
Em 1720, com o desdobramento da Capitania de Minas da de São Paulo, Vila Rica tornou-se o seu centro administrativo, passando a contar, em 1725, com casas de Intendência, para a fundição ouro e cobrança do quinto.
Mais do que o ouro, o diamante (em Diamantina) provocou maior repressão por parte das autoridades portuguesas e coloniais. A razão era simples: a pedra não podia ser quintada, logo, era mais fácil de burlar o fisco e contrabandear.
Minas deflagrou um intenso movimento de negócios, atraindo para o centro-sul o pólo da economia, até então localizado principalmente na Bahia e Pernambuco. Duas conseqüências políticas importantes foram a transferência da Capital de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763, e um aumento do interesse direto da Coroa portuguesa pelo Brasil.
Em 1789, a decisão da Coroa portuguesa de fazer a derrama, isto é, cobrar todos os impostos atrasados, foi uma das causas mais importantes da Inconfidência ou Conjuração Mineira, liderada por Tiradentes.
Em Congonhas do Campo o gênio de Aleijadinho tornou sublime e eterna a arte do barroco mineiro. Os profetas, as Capelas dos Passos com as imagens da Via-sacra, e a Basílica do Bom Jesus de Matosinhos. 
Aleijadinho ali iniciou seus trabalhos em 1796 e os concluiu em 1805. Portanto, apenas 9 anos antes de sua morte e quando, além da doença que o deformava cada vez mais, ainda estavam marcados em todas as sensibilidades a tragédia do enforcamento de Tiradentes e o fracasso da Inconfidência Mineira.
O ensino escolar na capitania foi paupérrimo; aliás, uma das características da colonização portuguesa. Contudo, além de inúmeros mineiros que foram estudar na Universidade de Coimbra, sobretudo no auge da mineração, quando eles superavam o número de estudantes enviados da Bahia e Rio de Janeiro, criou-se uma autêntica escola mineira não só na literatura, mas principalmente na arquitetura, escultura, pintura e música.
Minas no século do ouro e do diamante revelou poetas, que se inscreveram na história literária brasileira, no mínimo, como testemunhos da erudição e do ambiente cultural e político existente então em Minas: têm de ser lembrados Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto – os três poetas da Inconfidência Mineira.
 



Brasil, Histórias, Costumes e Lendas / Alceu Maynard Araújo - São Paulo: Editora Três, 2000
Minas Colonial / Vários autores - Gráfica Editora Lord S.A.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural - São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda, 1988.
Ilustrações de José Lanzellotti escaneadas do livro: Brasil, Histórias, Costumes e Lendas.
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