Waimiri-Atroari
(Reportagem de 1996)
 
Recursos naturais sempre  instigaram atos de violência
Os índios vaimiris-atroaris fecham acordo vantajoso com a Paranapanema, que explora cassiterita em suas terras

O poder despótico sempre tentou caracterizar como “barreira ao desenvolvimento”, medidas legais, na maior parte das vezes tímidas, para proteger o índio e seu território da exploração predatória.
Esse foi o argumento de que se valeu o empresário amazonense Egard Penha, da Penha & Bessa, empresa para a extração da borracha e castanha do Brasil, nos interiores amazônicos. O ano é 1926. Penha faz carga contra o chefe do posto indígena Marahaua, Luís José da Silva. Acusa-o de “arbitrário” por vetar com energia a entrada de seus homens em território indígena.
A guerra particular de Penha acabaria com a morte do agente do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), torturado pelo empresário e, em seguida na morte do sócio de Penha, Candido Bessa. Ele foi tocaiado pelos vaimiris-atroaris.
Mais que isso, Penha retomava os confrontos violentos que vinham do passado, opondo brancos e índios. Em 29 de abril de 1856, por exemplo, 50 policiais bem armados sob o comando de um certo major Vasconcelos, mataram pelo menos 300 índios, entre velhos, mulheres e crianças. Os homens saquearam e incendiaram as malocas, segundo narraram.
O relato histórico está no livro Waimiri-Atroari, a História que Ainda Não Foi Contada, do sertanista José Porfírio de Carvalho. Nesse tempo, os assassinos de índios não tinham pudor em disfarçar seus feitos. Ao contrário, trombeteavam as façanhas com ares de heróis. Para eles, e isso não mudou na Amazônia, os índios não passam de bichos. Mesmo que, já em 1537, o Papa Paulo III tenha declarado numa bula que índios são “seres humanos como os demais homens”.

Segue
Texto de Ulisses Capazoli
Fotos de Itamar Miranda/AE
Caderno Extra - O Estado de  S. Paulo - 8 de dezembro de 1996
Terra Brasileira