Terra Brasileira
.Moenda Portátil
de Caldo de Cana (Garapa)
Debret
Pequena moenda de cana portátil
Essa máquina pequena, bastante vulgar, instalada numa das lojas da Praça da Carioca, serve para espremer o caldo da cana.
Este, uma espécie de licor, não pode ser conservado mais de vinte e quatro horas sem fermentar, a menos que com preparo especial, e serve diariamente aos vendedores de bebidas para adoçar uma bebida bastante refrescante chamada capilé, e cujo preço diminuto propagou o uso. Pode-se ter uma idéia das grandes moendas por este pequeno modelo, desde que se acrescente um motor hidráulico ou movido por animais. Os cilindros da máquina têm, então, de quatro a cinco pés de altura e ela é construída sempre debaixo de um grande barracão.

A simplicidade do mecanismo desse pequeno modelo exige um negro a mais, colocado por detrás da máquina, a fim de tornar a passar a cana, já esmagada pelo primeiro cilindro, no segundo, o qual a esmagará mais uma vez.

Nos grandes moinhos o segundo negro é substituído por cilindros a mais, colocados de maneira a forçar a cana a passar entre os últimos rolos, que acabam de esmagá-la, rejeitando-a para o lado em que fora introduzida.

O tamanho da máquina e a pequena força do motor representados aqui só permitem moer a pequenina cana indígena. O mais inteligente dos negros é encarregado de introduzi-la entre os cilindros e de retirar o bagaço que, ainda cheio de suco, é aproveitado na alimentação dos cavalos e dos bois, pois os fortifica e engorda ao mesmo tempo.

No fundo vê-se uma mesa com um banco preparado para os consumidores que vêm beber ou simplesmente comprar certa quantidade de caldo de cana, vendido por medida. O feixe de cana encostado a um banco, no primeiro plano, dá uma idéia do tamanho bastante mesquinho dessa espécie de cana indígena.

Foi somente poucos anos antes da chegada de Debret ao Rio de Janeiro que se começou a cultivar a cana de Caiena, de preferência à cana indígena; esta, de uma espécie muito menor, com uma altura de cinco a seis pés, tem apenas dezoito linhas de diâmetro, ao passo que a de Caiena, da grossura de um braço de homem, atinge até vinte e cinco pés, com a vantagem de suportar três cortes.

Essa enorme diferença de quantidade na produção do açúcar é compensada, entretanto, para o consumidor, pela superioridade da cristalização da cana indígena, mais saborosa, mais rija e mais suscetível de permanecer muito tempo guardada.

É no mês de janeiro que cessam os trabalhos das fábricas de açúcar, recomeçando somente em abril; durante o calor excessivo que reina nesse intervalo, corta-se, limpa-se e replanta-se a cana-de-açúcar.

A muda de cana é simplesmente um pedaço cortado de três gomos de comprimento, enterrado horizontalmente a duas ou três polegadas de profundidade, de maneira a deixar virado para cima o gomo central, no qual nasce, perpendicularmente, um broto que já pode ser cortado ao de um ano.
 

Registros de Debret - Início do século XIX no Rioo de Janeiro.
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Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil / Jean Baptiste Debret. – São Paulo: Círculo do Livro, sem data.